SANTA CEIA: A RESPONSABILIDADE DE SER IGREJA
Santa
Ceia: A responsabilidade de ser Igreja
1 Co
11.17-34
A pintura A Última Ceia de Leonardo Da Vinci é uma das mais belas
obras de arte. Pintada entre 1495 e 1497 é hoje, segundo especialistas, uma das
obras mais apreciadas do mundo e fica no refeitório de um monastério em Milão
na Itália com 4,60m x 8,80 cm.
Analistas da arte dizem que a obra possui uma simetria perfeita, onde
o rosto de Cristo ocupa o centro do mural e o centro da extensa mesa. Seu olho
direito é o ponto de fuga da perspectiva por onde convergem todas as linhas. O
artista tenta então, colocar, por meio de sua genialidade artística, o sentido
e o valor daquele precioso momento para a vida de Cristo e da Igreja.
O texto que lemos mostra o apóstolo Paulo preocupado em dar orientações
sobre a Santa Ceia que a Igreja de Corinto estava vivendo. Parece-nos que as
notícias não eram muito boas. Em toda carta de 1 Coríntios o apóstolo precisa
lidar com complicadas situações dentro daquela igreja.
Andrew Miller, em A História da Igreja, destaca que Corinto, a capital
romana da Grécia, era uma grande cidade mercantil, em conexão imediata com Roma
e com o oeste do Mediterrâneo, com Tessalônica e Éfeso no Mar Egeu, e com a
Antioquia e Alexandria a leste. Assim, por meio de seus dois notáveis portos, a
cidade recebia embarcações tanto dos mares ocidentais quanto dos mares
orientais.
Assim a cidade experimentava o movimento de diversas culturas. O que
trazia benefícios mas também diversos desafios à fé cristã. Alguns dizem que
Paulo foi a Corinto para uma decisiva missão: experimentar o poder do
evangelho. Porque se o evangelho fosse capaz de tocar o coração das pessoas de
Corinto, poderia salvar qualquer pessoa. Era uma cidade extremamente
intelectualizada, mas tanto quanto depravada moralmente. O Pr Hernandes Dias
Lopes afirma que a palavra korinthiazesthai, viver
como um coríntio, chegou a ser parte do idioma grego, e significava viver
bêbado e na corrupção moral.
At 18.11 afirma que o apóstolo Paulo ficou 1 ano e meio ensinando a
Palavra de Deus naquela cidade até seguir sua segunda viajem missionária.
Deixou ali uma igreja vibrante, homens e mulheres tementes a Deus,
discípulos/as de Jesus Cristo que experimentavam muitos dons espirituais. Mas
depois de algum tempo as notícias não eram boas.
Na primeira carta que Paulo escreve precisa tratar questões como divisões
e facções entre os irmãos; um dos irmãos agia com tamanha imoralidade que nem
mesmo os de fora tolerariam, mas a igreja nada fazia; os membros arrastavam uns
aos outros ao tribunais seculares para
solução de disputas que surgiam entre eles; alguns viviam uma vida de
fornicação com prostitutas e se justificavam dizendo que apenas o corpo
participava do ato, mas o espírito permanecia puro; o culto era uma bagunça e
se chegasse um visitante não entendia nada do que estava acontecendo porque
cada um queria mostrar seu dom espiritual com total desordem; começaram a
pregar uma falsa doutrina de que a ressurreição não aconteceu de fato; e além
de perguntas específicas que tinham, Paulo trata sobre o problema que causavam
quando se reuniam para a santa ceia.
E lendo este texto, o Espírito Santo ministrou ao
meu coração que a maior expressão do Ser Igreja está na Santa Ceia. Porque...
1. Ela
é cristocêntrica (vv.24-25)
· Não
excêntrica (v.22)
Muitas
pessoas vivem uma vida excêntrica, fora do eixo, fora do centro e pensam que
podem levar a Igreja de Cristo a caminhar da mesma forma. Nós temos um eixo,
nós temos um centro que é Jesus Cristo, ele é o Senhor da Igreja.
· Não pluricêntrica (v.19)
Outros pensam que cada um pode puxar para um lado, e é aqui que surgem
os grupinhos, as facções, as divisões, porque partidos querem se colocar acima
do Senhor da Igreja e passam a brigar uns com os outros pelo domínio político
da Igreja e o corpo se divide em muitos centros, muitos membros.
· Não
egocêntrica (v.21)
Vivemos
dias onde o egocentrismo é louvado. Ego
no grego é EU. Muitos querem viver a sua dinâmica de fé colocando o seu EU no
centro e aqui nem me pergunto se tem alguém que pensa como eu para formar um
grupo ou um partido, pois eu me basto e o mundo girando ao redor do meu EU é
suficiente para mim.
Mas
a IGREJA É CRISTOCÊNTRICA, Jesus Cristo é o Senhor da Igreja. Fazei isto em
memória de mim é colocar Cristo no centro da Santa Ceia e declarar que é por
ele que estamos aqui.
2. Há o
desafio de receber e de dar (v.23)
Como temos experimentado um egocentrismo vibrante em nossa sociedade,
somos ensinados que o melhor é receber o máximo que puder dando o mínimo que
puder. Esta é a lógica do lucro e o conceito da efetividade, do rendimento. Eu
sou considerado efetivo quando ganho muito, recebo muito com o mínimo esforço
possível, ganhando o máximo que puder gastando o mínimo possível para isso.
Mas a lógica de Cristo é diferente. Veja At 20.35:
Tenho-vos
mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e
recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurado é dar do
que receber.
A Igreja ainda é hoje um espaço onde somos profundamente abençoados e
recebemos muito da parte de Deus, mas somos veementemente chamados a dar.
O apóstolo Paulo nos mostra isto com sua vida, ele tanto recebeu do
Senhor que não cessava de se dar à obra de Cristo e ao Senhor. O fazer
discípulos é uma árdua missão de dar-se continuamente ao outro até que nele
seja formado um discípulo de Cristo.
3. O simples
fato de estarmos juntos não significa que agradamos a Deus. (v.17)
Tenho ensinado para meus alunos do Colégio
Piracicabano que já passamos do problema entre o ser e o ter, as pessoas não
são mais valorizadas pelo que tem ao invés de pelo que são, isso já é passado.
Hoje, vivemos dias em que valoriza-se o parecer ter. Vivemos uma crise da
aparência x essência. Mesmo o que tem dinheiro, se não demonstrar, esbanjar,
ostentar não recebe a mesma valorização daquele que, às vezes nem tem tanto,
mas sabe ostentar.
Esta difícil relação entre aparência e essência
se dá também na Igreja e na Ceia. É possível estarmos em um prédio onde se
reúnem muitas pessoas aos domingos e colocarmos uma cruz pendurada em algum
lugar, há música e até pregação, parecer ser uma igreja, mas na essência estar
envergonhando o nome de Cristo.
Já pensou ouvir esta frase de Paulo: NÃO VOS
LOUVO! PORQUE QUANDO SE REUNEM É PARA PIOR E NÃO PARA MELHOR. Qual é a essência
do nosso coração? Qual a nossa motivação para estarmos aqui? Venho porque meus
pais sempre vêm? Venho porque pode ser que eu conheça uma pessoa legal para eu
namorar? Venho porque as músicas são legais e o pastor até fala coisas que eu
gosto de ouvir? Qualquer uma destas motivações deve ser secundária. A Igreja deve ser um espaço onde nos
reunimos para adorar a Deus, crescermos em amor ao próximo e servir uns aos
outros em amor sendo assim, cada vez semelhantes a Jesus, nosso SENHOR.
Que
possamos aprender com este momento da Santa Ceia para nossas vidas enquanto
Igreja de Jesus na terra.
Que
Deus nos abençoe e nos capacite para sempre colocarmos Cristo no centro de
nossa vida, que nos renovemos para não viver de acordo com o padrão do mundo,
mas que possamos dar o que temos recebido das mãos do Senhor e que quando nos
ajuntarmos seja para glorificar a Deus e abalar as estruturas malignas que oprimem
o ser humano.
Orando
por nós,
Seu
amigo e pastor,
Hugo G. Freitas
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