SANTA CEIA: A RESPONSABILIDADE DE SER IGREJA
Santa
Ceia: A responsabilidade de ser Igreja (2)
1 Co 11.17-34
Clarice Lispector
(1920-1977 – escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada
brasileira) escreveu que: “Quem caminha sozinho pode até chegar mais
rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe”. Essa
frase me chamou a atenção para uma verdade bíblica da importância de
caminharmos juntos, unidos, rumo ao um mesmo propósito de Deus para nós.
O
texto que lemos mostra o apóstolo Paulo preocupado em dar orientações sobre a
Santa Ceia que a Igreja de Corinto estava vivendo. Parece-nos que as notícias
não eram muito boas. Em toda carta de 1 Coríntios o apóstolo precisa lidar com
complicadas situações dentro daquela igreja.
Andrew
Miller, em A História da Igreja, destaca que Corinto, a capital romana da
Grécia, era uma grande cidade mercantil, em conexão imediata com Roma e com o
oeste do Mediterrâneo, com Tessalônica e Éfeso no Mar Egeu, e com a Antioquia e
Alexandria a leste. Assim, por meio de seus dois notáveis portos, a cidade
recebia embarcações tanto dos mares ocidentais quanto dos mares
orientais.
Assim
a cidade experimentava o movimento de diversas culturas. O que trazia benefícios,
mas também diversos desafios à fé cristã. Alguns dizem que Paulo foi a Corinto
para uma decisiva missão: experimentar o poder do evangelho. Porque se o
evangelho fosse capaz de tocar o coração das pessoas de Corinto, poderia salvar
qualquer pessoa. Era uma cidade extremamente intelectualizada, mas tanto quanto
depravada moralmente. O Pr. Hernandes Dias Lopes afirma que a palavra korinthiazesthai, viver como um
coríntio, chegou a ser parte do idioma grego, e significava viver bêbado e na corrupção moral.
At
18.11 afirma que o apóstolo Paulo ficou 1 ano e meio ensinando a Palavra de
Deus naquela cidade até seguir sua segunda viajem missionária. Deixou ali uma
igreja vibrante, homens e mulheres tementes a Deus, discípulos/as de Jesus
Cristo que experimentavam muitos dons espirituais. Mas depois de algum tempo as
notícias não eram boas.
Na
primeira carta que Paulo escreve precisa tratar questões como divisões e
facções entre os irmãos; um dos irmãos agia com tamanha imoralidade que nem
mesmo os de fora tolerariam, mas a igreja nada fazia; os membros arrastavam uns
aos outros ao tribunais seculares para
solução de disputas que surgiam entre eles; alguns viviam uma vida de
fornicação com prostitutas e se justificavam dizendo que apenas o corpo
participava do ato, mas o espírito permanecia puro; o culto era uma bagunça e
se chegasse um visitante não entendia nada do que estava acontecendo porque
cada um queria mostrar seu dom espiritual com total desordem; começaram a
pregar uma falsa doutrina de que a ressurreição não aconteceu de fato; e além
de perguntas específicas que tinham, Paulo trata sobre o problema que causavam
quando se reuniam para a santa ceia.
E
lendo este texto, o Espírito Santo ministrou ao meu coração que a maior
expressão do Ser Igreja está na Santa Ceia. Porque, como já vimos:
1. Ela é cristocêntrica (vv.24-25)
·
Não excêntrica
(v.22)
·
Não pluricêntrica (v.19)
·
Não
egocêntrica (v.21)
2. Há o desafio de receber e de dar
(v.23)
3. O simples fato de estarmos juntos
não significa que agradamos a Deus. (v.17)
Mas gostaria de apresentar ainda
mais 4 aspectos da importância da Santa Ceia e da Igreja baseados nesta mesma
carta do apóstolo Paulo à igreja de Corinto:
4. Chama à responsabilidade de
anunciar a morte de Cristo. (v.26)
Veja
a importância do testemunho da igreja: anunciar a morte de Cristo ao mundo que
vive, em muitos aspectos, uma vida de morte. Somos diferentes porque Cristo
morreu por nós e nos libertou.
A
responsabilidade da Igreja que se materializa na Ceia passa pelos princípios da
Denúncia do pecado, do Anúncio da Salvação por meio do Testemunho de Cristo.
Quando
anunciamos a morte de Cristo declaramos que:
· nossa fé está n’Ele e
não em nossa própria força;
· somos aceitos por
Deus pelo sangue e corpo de Cristo;
·
se
Cristo venceu a morte, nós também venceremos.
O
anúncio da morte de Jesus Cristo me traz vida porque certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e
as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus e oprimido. 5 Mas ele
foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Is 53.4-5
5. Desafia-nos à autoavaliação. (vv. 27-32)
Muitos estão
enfermos espiritualmente, sofrendo dores emocionais e até físicas, porque nunca
pararam pra se autoavaliarem ou, quando fazem, só pensam de quem é a culpa por
agirem daquela forma, mas dificilmente chegam à conclusão de que a culpa é
deles mesmos para mudarem de atitude. Toda pessoa que deseja crescer, precisa
passar por avaliações! A Igreja e a Ceia são momentos especiais de autoavalição.
Qual foi a última
vez que você parou para fazer uma autoavaliação?
Perceba que forte
é a expressão do texto bíblico: 1 Co 11.31-32 31
Porque, se nos julgássemos a nós mesmos,
não seríamos julgados. 32
Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.
Quando fugimos de
uma autoavaliação sincera caímos no julgamento dos outros e, para não sermos
condenados com o mundo, somos disciplinados pelo Senhor.
6. Chama-nos a esperar uns pelos
outros. (v.33)
Em
um tempo no qual os que correm mais rápido são cada vez mais valorizados,
casamentos estão acabando porque o marido e a esposa não conseguem esperar um
pelo outro. Pais estão abandonando seus filhos porque estes não conseguem
acompanhar o ritmo frenético da vida adulta. Filhos se afastam de seus pais
porque os consideram ultrapassados. Amizades se desfazem porque os passos não
se sincronizam mais.
A Igreja do
Senhor e a Santa Ceia são proféticos ao dizer: Nós esperamos uns pelos outros!
Seremos todos salvos juntos, caminharemos juntos.
Quando o povo de
Deus, fugindo do Egito, passou pelo mar vermelho perseguido pelo exército de
Faraó, o mar não se fechou até que todos tivessem passado. Com certeza haviam
ali crianças, jovens e adultos, homens e mulheres com níveis de força
diferentes, mas todos foram salvos juntos porque esperaram uns pelos outros!
Veja a oração de
Jesus em João 17.22-23: Eu lhes tenho
transmitido a glória que me tens dado, para
que sejam um, como nós o somos; 23
eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados
na unidade, para que o mundo conheça
que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.
Esperar uns pelos outros na caminhada de fé não é um favor que fazemos uns
aos outros, é obediência à Palavra de Deus, é seguir os passos de Jesus para
experimentarmos o amor de Deus em nossa comunhão.
7.
Valoriza
a Auto-alimentação (v.34). Se alguém
tem fome, coma em casa.
O fato de andarmos juntos e esperarmos uns pelos outros não
pode ser desculpa para que eu não caminhe com minhas próprias pernas.
Infelizmente em nossas relações cotidianas vemos pessoas que se aproveitam do
cuidado que outras pessoas oferecem para deixarem de cumprir suas obrigações.
No trabalho sempre tem um que faz menos e sempre quer ser ajudado, na escola,
trabalho em grupo sempre tem aqueles que ficam encostados nos demais e em casa
sempre tem o mais bagunceiro e que menos ajuda na arrumação. Normalmente os
“encostados” são os mais exigentes.
Na vida
espiritual é a mesma coisa, muitos querem viver se alimentando do que você dá,
mas não querem buscar a Deus como você busca. Muitos reclamam que não são
alimentados espiritualmente, mas não vão à Escola Dominical, às células, aos
cultos e, mesmo aqueles que vão, precisam também se alimentar em casa, como a
Bíblia nos diz: Se alguém
tem fome, coma em casa.
Se o alimento que
você está recebendo nestes espaços de fé não estão satisfazendo sua fome
espiritual, você não tem que mudar de igreja, você precisa se alimentar em
casa!
Imagine se eu chego pra você e começo a reclamar que estou
passando fome. A primeira coisa que você vai perguntar é: “Mas você está sem
comida em casa?”. Então eu te respondo: “Ah não, tem muita comida, eu é que não
estou comendo porque minha esposa não vem colocar comida na minha boca”. O que
você pensaria de mim?
Nossa fome espiritual precisa ser satisfeita com busca por
Deus, se alimentando da presença de Deus em nossas vidas por meio da oração, do
jejum, da leitura da Palavra e da comunhão com os irmãos.
Sem dúvida, Deus fala com você na Escola Dominical, no culto
e na célula, mas existem segredos do coração de Deus que você só conhecerá
quando estiver a sós com ele. Vemos em toda a Bíblia de Adão, Moisés, Jacó,
Jesus, Pedro e Paulo, Deus se revelando de forma profunda a estes homens
enquanto estavam a sós com seu Senhor.
Deus tem um banquete preparado para você! Uma mesa com
abundância de vida, de saúde, de amor, alegria, paz, bondade, benignidade,
perseverança, mansidão, domínio próprio e fidelidade. Seja qual for a razão da
tua fome espiritual, nesta mesa você pode encontrar alívio. Mas você precisa
dar um passo de fé e se alimentar!
Que Deus nos abençoe e nos capacite a sermos plenamente a
sua Igreja.
De seu amigo e pastor
Hugo G. Freitas
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