Onde está Deus diante das 500 mil mortes?



Nasci em uma cidade industrial do interior do Rio de Janeiro, com uma população de aproximadamente 250 mil habitantes e hoje, infelizmente, chegamos à terrível marca de 500 mil mortes no Brasil, vítimas da Covid-19. Pensei que todas estas vidas perdidas equivalem a 2 cidades onde nasci, um número terrivelmente assustador.

Diante deste cenário, tendo como ferramenta a teologia que aprendeu com a filosofia a fazer perguntas, gostaria de considerar alguns fatos e também levantar alguns questionamentos sem deixar de lado nossa tradição profética de denúncia do pecado e anúncio da salvação em Cristo.

No dia 18 de junho de 2021, somente 2 países tiveram, na média de 7 dias, um número superior a 2.000 mortes: Brasil e Índia. Todos os outros países no mundo tiveram um número de mortes inferior a 500, com exceção de Argentina e Colômbia (com 517 e 590 respectivamente).

Sobre o número acumulado de mortes, desde o início da pandemia, vemos os Estados Unidos liderando a lista com mais de 600 mil mortes e o Brasil em segundo, seguido pela Índia com quase 400 mil vidas perdidas.

Não obstante, quando olhamos em perspectiva estes dados, considerando o número de mortes por milhão de habitantes nos países, observando ainda uma média de 7 dias, vemos nossos vizinhos Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia e Suriname em situações bem complicadas com média acima de 10 mortes por milhão na última semana, enquanto o Brasil está com 9,59. Contudo, ao olharmos para fora da América Latina, temos Austrália com ZERO morte, Estados Unidos com 0,94, Canadá com 0,58, Itália com 0,71, Espanha com 0,46, Portugal com 0,24 e por aí vai a Europa.

Sobre o número de mortes acumulados em relação à população, olhando para todos os países do mundo vemos o Brasil em 9º lugar com 2.345,22 mortes por milhão de habitantes, atrás apenas de Peru, Hungria, Bosnia e Herzegovina, Czechia, Macedônia, San Marino, Bulgária e Montenegro que, infelizmente, tiveram perdas maiores que a nossa com relação ao seu tamanho populacional.

Diante disto me surgem alguns questionamentos: é Deus quem controla o dia da morte de cada ser humano? É verdadeiro o ditado “ninguém morre de véspera”? É Deus então que está por traz de todas estas mortes? Mas se estas respostas são todas afirmativas surge uma nova indagação: porque Deus desejaria que morram mais brasileiros do que franceses, portugueses, espanhóis, australianos, japoneses, argentinos, uruguaios e paraguaios? Deus não é mais brasileiro? Enfim, onde está Deus diante das 500 mil mortes?

Obviamente, não posso concordar com isso, pois quando olho para Jesus na bíblia e vejo a face de Deus no homem não consigo ver um olhar excludente e separatista que praticaria estes atos. Mas vejo um Deus que é amor, que é Pai e transborda sua essência sobre todos que o desejam.

Jesus me garante por suas palavras, atos e experiências pessoais que ele é o caminho, a verdade e a VIDA. Além disso ele veio para dar vida em abundância ao contrário do ladrão de nossas almas que veio para roubar, matar e destruir. E que o filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do diabo.

Se olharmos, então, apenas para a dimensão bíblica e espiritual em relação aos dados que citei acima, poderíamos dizer que Jesus está agindo em muitas partes do mundo combatendo a morte e gerando vida, curando muitas pessoas desta doença, enquanto o diabo age em alguns outros países com números altíssimos de mortes, dentre eles a amada terra do Brasil.

Mas é simplista e equivocada esta resposta. Pois Deus, ao criar o ser humano e toda a terra, nos coloca como responsáveis sobre nossas ações e sobre a criação que nos foi emprestada. De fato, o salmista diz que Deus escreveu todos os nossos dias em seu livro, mas isto não significa que todo o roteiro está determinado e imutavelmente seremos guiados a nossos destinos pré-estabelecidos por Deus. 

Ao contrário, isto significa que Deus planejou uma vida plena e perfeita para nós. Escreveu uma história linda para cada ser humano viver plena e abundantemente, mas o pecado que age não somente na dimensão individual, mas também social, política e interpessoal, tem a terrível capacidade de se opor à vida plena de Deus gerando morte e perdas em todo lugar que se manifesta.

Assim, não me engano, Deus NÃO está por trás das 500 mil mortes no Brasil, mas o pecado está. E o pecado está muito além da dimensão moralista, especialmente das questões de sexo que tanto se grita pelas ruas, mas age ainda mais mortalmente por meio do orgulho, da vaidade, da mentira, da maldade que impedem as pessoas de amar e de reconhecerem seus erros, fazendo-as vender todos seus valores para se manterem no poder. Homens que idolatram homens e seguem sacrificando vidas humanas para satisfazerem seus ídolos de poder, fama, likes e visualizações nas redes sociais.

Homens que, guiados pelas suas próprias verdades, são incapazes de perceber a dor do seu povo. Roubam, mentem, maquinam o mal, torcem a justiça. Prendem inocentes e libertam criminosos. Condenam o justo e absolvem condenados. 

Um povo que, também mergulhado no pecado do orgulho farisaico, religioso, separatista e odioso, se nega a criticar seus ungidos consagrados e santificados por si mesmo, fecham os olhos para desvios morais e espirituais em troca de simples acenos de suas autoridades.

Questões de saúde pública sendo discutidas por pessoas que só querem se reeleger, questionadas por pessoas que só querem retornar ao poder e sofridas por toda uma nação que escolhe um dos lados e segue morrendo sem ser ouvida.

Profissionais da saúde que se doam dioturnamente para tentar salvar a todos diante de um caos que se instala ao seu redor, enquanto milhões vão às ruas acenar positivamente ou negativamente a um governo que começa uma campanha política enquanto ainda estamos a mais de 1 ano das próximas eleições.

Onde está Deus? Ao lado de quem chora, ao lado de quem sofre, ao lado dos que estão sendo crucificados nos respiradores das UTIs, ao lado dos que estão enterrando seus entes queridos sem poder ver seus rostos. Perto está o SENHOR da dor de nosso povo.

Mas não se enganem, de Deus não se zomba! Eu sei que meu redentor vive e Ele se levantará para julgar cada homem e cada mulher que responderão por seus atos. Todo caminho tortuoso será endireitado e a glória do Senhor se manifestará como o sol do meio dia. A sua justiça brilhará mais forte que o sol e como as águas cobrem o mar, toda terra se encherá da presença de Deus. Fujam os vilões da sua presença, ele acolherá os humildes em seus braços!

Perto está o Senhor!

Que Deus nos abençoe e nos livre do mal!

Em Cristo,

Pr Hugo G. Freitas


 Todos os dados são da COVID-19 Data Repository by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) at Johns Hopkins University disponível em https://ourworldindata.org/coronavirus/country/brazil. Acesso em 19 de junho de 2021.

Comentários

Postagens mais visitadas